Projetos empreendedores capacitados na UFC ganham destaque em competições e mostram potencial de negócio
Desde pequena, Luana Stopa Ramos percebia ter um espírito empreendedor. Vendia coisas diversas na escola quando queria juntar dinheiro e sempre imaginava ter o seu negócio. O mundo da moda foi então conquistando seu interesse, ao mesmo tempo que crescia em si uma preocupação com a sustentabilidade ambiental. Daí, pensou que sua aspiração poderia se concretizar na interseção entre as duas áreas. Cursando hoje o sexto semestre de Design-Moda na Universidade Federal do Ceará (UFC), a jovem começou a dar os primeiros passos rumo ao seu sonho e se surpreendeu com os resultados já alcançados nessa empreitada.
Com um grupo montado por ela, Luana criou a UpDesign, uma solução inovadora com alto potencial de virar negócio. A ideia venceu o primeiro hackathon de impacto socioambiental promovido pela Universidade de Fortaleza (UNIFOR), realizado em outubro passado. Hackathon – palavra que vem da combinação dos termos em inglês “hack” (programar) e “marathon” (maratona) – é um evento que reúne profissionais de diferentes áreas para o desenvolvimento de um projeto tecnológico que atenda a um fim específico.
A UpDesign é um dos 36 projetos selecionados pela edição deste ano do Empreende UFC, programa voltado ao estímulo do fortalecimento do empreendedorismo e da inovação e que envolve estudantes de graduação, pós-graduação e servidores docentes e técnico-administrativos. Luana inscreveu sua ideia no programa e ganhou uma bolsa, através da qual começou a desenvolver seu plano de constituição de uma startup, nome dado a empresas que nascem em torno de uma ideia inovadora.
“A UpDesign faz a coleta especializada de resíduos, principalmente resíduos têxteis das indústrias, e os transforma em novas peças sustentáveis”, explica a nova empreendedora. No hackathon, a equipe encabeçada por Luana apresentou o método utilizado pela UpDesign para a sustentabilidade na moda, que se utiliza especialmente da técnica do “upcycling” [também conhecida como reutilização criativa], ou também da customização, para agregar valor aos resíduos. Conforme o projeto, as peças serão produzidas por mulheres em vulnerabilidade social, que venderão seus produtos no marketplace da UpDesign, recebendo uma porcentagem de lucro em cima desses itens.
“Estamos na etapa ainda quase que inicial. Já validamos muitas coisas, mas ainda temos que desenvolver melhor a ideia, falar com possíveis parceiros, agregar mais pessoas ao nosso time, enfim, desenvolver melhor como funcionaria toda essa rede, esse ciclo”, explica a aluna da UFC, que montou a equipe com os colegas João Pedro Sidou, Leonardo Batista, João Igor Andrade e Bruno Sousa Gomes, de outras universidades. “Vencer o hackathon foi quase como uma validação de que eu estou no caminho certo, sabe? Foi num momento que eu estava um pouco desacreditada no projeto e, nossa… Foi muito importante! Mudou muita coisa”, avalia.
Segundo Luana, o grande suporte foi ter participado do Empreende UFC, que a orientou como começar a executar toda a ideia, o que, para ela, era uma das etapas mais difíceis. De acordo com a Profª Maria da Conceição F. de Oliveira, coordenadora de Empreendedorismo e Inovação da Pró-Reitoria de Relações Interinstitucionais (PROINTER), as premiações de projetos desenvolvidos no Empreende UFC têm um papel essencial: “São uma injeção de ânimo não só para as demais equipes do programa, mas também para nós que fazemos parte da organização. Mostra que estamos formando cases de sucesso”.
A professora explica que o programa é uma jornada de 10 meses voltada para a capacitação das equipes em empreendedorismo. “Ao logo da jornada, as equipes têm a oportunidade de amadurecer não somente a solução de negócio proposta, mas também suas habilidades em preparar e apresentar publicamente seus pitchs. Dessa forma, quando vão participar de eventos, tipo hackathons, fora da instituição, os quais vão requerer deles tais habilidades, as chances de sucesso são imensas”, analisa.
DEMODAY – Os pitchs, citados pela professora, são apresentações curtas e diretas feitas pelos integrantes dos projetos que buscam despertar a atenção de um investidor, de um parceiro ou de um cliente pelo negócio. É com esse tipo de apresentação, de 5 minutos de duração, que será realizado o DemoDay, evento que começa nesta quarta-feira (6) e se estende até amanhã (7) no auditório do Condomínio de Empreendedorismo e Inovação, localizado no Campus do Pici Prof. Prisco Bezerra. O evento marca o fim da edição 2023 do programa Empreende UFC e, nele, todos os 36 projetos envolvidos serão apresentados.
Esta é a quarta edição do Empreende UFC, que já capacitou responsáveis por 92 projetos nos campi de Fortaleza, Sobral, Russas, Quixadá e Crateús. Ao todo, mais de 400 estudantes participaram do programa, além de mais de 90 servidores docentes e técnico-administrativos. “Ao final do programa, as equipes estão capacitadas para seguirem adiante com seus projetos. Algumas poderão, por exemplo, submeter seus projetos a editais de subvenção, como foi o caso da equipe CheMall, que foi aprovada no edital Centelha CE 2023 e constituiu a empresa. Temos casos de equipes que já constituíram CNPJ e estão expandindo mercado, como é o caso da PetWalk”, comenta a professora.
O edital de 2024 do Empreende UFC será lançado em janeiro. Um dos desafios do programa é ampliar a diversidade de cursos envolvidos, já que ainda há uma maioria de participantes de cursos de Tecnologia da Informação (TI). Além disso, também há uma busca por maior equidade de gênero, já que os cursos de TI possuem mais discentes do sexo masculino.
SOLUÇÃO PARA ALUNOS DA UNIVERSIDADE – Outro projeto saído do Empreende UFC que também já ganhou notoriedade é o ACAD+, liderado por João Ícaro Moreira Loiola, aluno do quarto semestre de Ciência da Computação no Campus de Russas. O grupo formado por João Ícaro, que agrega 12 estudantes dos cursos de Ciência da Computação e Engenharia de Software, garantiu o segundo lugar na Siará Tech Summit, o maior evento de inovação e negócios do Norte e Nordeste, ocorrido em Fortaleza nos dias 7 e 8 de novembro.
A ACAD+ já é uma startup, isto é, já é uma empresa constituída. Mas surgiu do projeto Academizer, solução aprovada no edital deste ano do Empreende UFC e que consiste em um aplicativo de gestão integrada com os dados do Sistema Integrado de Gestão de Atividades Acadêmicas (SIGAA). O app tem o objetivo de sanar a dificuldade de acesso à plataforma, garantindo persistência dos dados de maneira off-line e gestão de tempo.
“A ideia veio de maneira repentina. Desde 2022.1, quando entrei na UFC, senti dificuldades de acessar o sistema SIGAA pelo celular e vi outros estudantes com o mesmo problema, devido à dificuldade de visualização, à baixa acessibilidade para pessoas com baixa visão, ao sistema instável, entre outros motivos. Mesmo com todas essas problemáticas, não vi ninguém se levantar para tentar melhorar a solução, então, em 2023.1, decidi eu mesmo sugerir a ideia da nossa solução”, conta o aluno empreendedor.
Mas foi somente após o início da mentoria pelo Empreende UFC que ele entendeu como empreender sua ideia. “Tivemos suporte com aulas, conteúdos em vídeo e PDF, rodadas de mentorias e avaliação, simulações de apresentação de pitch, conversas com empreendedores, investidores e, claro, o fornecimento de bolsas para três discentes atuarem dentro do projeto”, relata. “Pude descobrir como funcionava o empreendedorismo e como este era um tipo de trabalho muito satisfatório de ser realizado”.
Com o sucesso do projeto, o plano da equipe da ACAD+ agora é criar soluções para toda a comunidade acadêmica do Brasil, além de gerar iniciativas com escolas de ensino médio e com setores da educação. “Queremos melhorar e facilitar o cotidiano acadêmico. Até 2024.2, pretendo levar o Academizer para ao menos duas universidades federais, além da UFC, e criar mais uma solução para os estudantes”, projeta.
Fonte: Agência UFC