Máquina que otimiza colheita de alimento para gado rende mais uma carta-patente para a UFC, a 9ª da Instituição
Dono do maior rebanho bovino comercial do mundo, o Brasil tem atualmente 214,7 milhões de cabeças de gado, de acordo com os dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O número supera a quantidade atual de brasileiros, que é de 213 milhões, conforme o mesmo instituto. Assim, a alimentação bovina é um fator fundamental para a agricultura nacional, exigindo técnicas cada vez mais avançadas no trato da forragem (termo relativo às plantas que servem de comida aos animais). Uma máquina desenvolvida na Universidade Federal do Ceará torna o processo de colheita mais eficiente e facilita a vida dos agricultores.
Trata-se da “colhedora de forragem multifuncional para multiculturas“, criada pelo Prof. Daniel Albiero, que desenvolveu o equipamento quando era docente do Departamento de Engenharia Agrícola, do Centro de Ciências Agrárias da UFC. Atualmente, o pesquisador é vinculado à Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). O invento foi reconhecido no dia 21 de abril pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), resultando na nona carta-patente conquistada pela UFC. Também assinam a invenção Francisco Ronaldo Belém Fernandes e Rafaela Paula Melo, ex-alunos de doutorado da UFC orientados por Albiero.
Em linhas gerais, as colhedoras são equipamentos usados para cortar e picar o material vegetal ainda verde, visando principalmente facilitar a ingestão do alimento pelo rebanho. A máquina que originou a patente consiste em um sistema mecanizado multifuncional, projetado para a colheita de diversas culturas forrageiras. O foco é a família das cactáceas, em especial a palma forrageira.
Os sistemas de corte, coleta, separação e transporte do material biológico foram planejados de tal forma que, através de regulagens ou troca de pequenas peças da máquina, possa ser colhida uma grande gama de forrageiras, sobretudo as cactáceas, sejam espécies nativas ou exóticas.
DIFERENCIAIS E BENEFÍCIOS ‒ Os principais diferenciais em relação a outras máquinas do tipo são os seguintes: o sistema de corte de base é constituído por corrente em vez de lâminas ou serras; o sistema de picagem das forrageiras foi desenvolvido com base em estudos de dinâmica e cinemática do corte, onde as lâminas, devido a sua geometria, atuam como “miniespadas”, curvadas e calculadas em função dos melhores ângulos de corte e “ataque” ao material biológico; o terceiro diferencial é que a máquina é modular, ou seja, com a troca de módulos é possível convertê-la de acordo com cada cultura cultivada, e também aumentar ou diminuir sua capacidade de campo (razão entre a área de trabalho e o tempo, medida em hectares colhidos por hora).
Albiero diz que o equipamento é destinado principalmente ao agricultor familiar, fornecendo ao produtor um sistema de colheita de forrageiras adequado às suas necessidades.
“Os principais benefícios são a diminuição do trabalho árduo do campo, principalmente no que concerne à colheita de palma forrageira e outras cactáceas, que atualmente não possuem sistemas mecanizados, obrigando os agricultores familiares a colherem com a mão. Além do esforço físico, isso representa também o perigo de trabalhar com material biológico dotado de espinhos afiados”, explica o pesquisador. Outras duas vantagens, acrescenta, são o aumento exponencial na capacidade de campo e a eliminação de perdas do material biológico. A expectativa é que em breve a máquina possa ser produzida em grande escala, por meio de parcerias com empresas de equipamentos agrícolas.
Com forte atuação em inovação tecnológica, o Prof. Daniel Albiero tem vários outros pedidos de patente em processo de análise no INPI, sempre oriundos de pesquisas realizadas junto com estudantes de pós-graduação. Alguns pedidos de patente foram depositados pela UFC e, outros, pela UNICAMP. Atualmente, suas pesquisas são direcionadas sobretudo para as áreas de mobilidade elétrica e robótica na agricultura, com vários projetos em andamento ‒ um deles em parceria com o Prof. Fernando Antunes, da UFC, relacionado a tratores elétricos.
SATISFAÇÃO E RECONHECIMENTO ‒ Albiero diz que a carta-patente significa “a concretização de um sonho” para ele e os coautores da invenção. Na visão do pesquisador, o reconhecimento representado pelo documento sintetiza muitas coisas no contexto de uma universidade pública, de qualidade, gratuita e socialmente referenciada, da qual a UFC é exemplo. “Uma carta-patente é uma vitória porque apresenta para a sociedade brasileira todo o esforço de pesquisa (desenvolvimento da invenção), ensino (orientação dos estudantes coinventores) e extensão (preocupação com os interesses externos à universidade e movimento em levar conhecimento e tecnologia para a sociedade)”, enfatiza.
TRAJETÓRIA ‒ Essa é a nona patente obtida pela UFC desde setembro de 2019, quando a primeira carta da história da Instituição foi concedida pelo INPI foi concedida pelo INPI.
As recentes aquisições são resultado de esforço exercido pela Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (PRPPG), por meio da Coordenadoria de Inovação Tecnológica (UFC Inova), que tem trabalhado para facilitar os registros, no INPI, das invenções desenvolvidas na UFC. Durante a pandemia de covid-19, a UFC Inova iniciou um tipo de mentoria com os inventores de patentes que estão passando por exames técnicos, analisando aspectos da redação patentária e orientando, através de e-mails, reuniões pelo Google Meet, dentre outras formas, sobre o atendimento aos requisitos legais vigentes no País.
Nos últimos anos, houve um expressivo crescimento e aperfeiçoamento da infraestrutura de inovação na UFC ‒ expresso, entre outros fatores, pelo crescimento no registro de patentes. Esse processo teve início há cerca de 10 anos, com a criação do Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT), que depois se tornou a Coordenadoria de Inovação Tecnológica (CIT). Em 2018, a CIT adotou a marca UFC Inova, no intuito de que o setor produtivo, o público interno e a sociedade em geral possam identificar mais facilmente ações inovadoras desenvolvidas na Universidade. Atualmente, o setor é coordenado pela servidora Ana Carolina Matos.
“Nessa gestão, a Coordenadoria foi reorganizada para se aproximar do pesquisador pelas diversas frentes de apoio que lhe são competentes, e estamos percebendo bons resultados em números”, pontua Carolina. A gestora cita os seguintes exemplos: na área de propriedade intelectual, as mentorias que resultaram nas primeiras concessões de cartas-patentes da Universidade; na regularização de direitos, o gerenciamento de contratos de titularidade de ativos com outras instituições; na transferência de tecnologia, a negociação e gestão de contratos do tipo, passando de um em 2019 para três em 2021; no relacionamento da UFC com empresas, o trabalho do Comitê de Inovação Tecnológica (COMIT), que assessora tecnicamente a Instituição quanto a acordos de parceria com o setor produtivo.
Albiero, que viu de perto o aperfeiçoamento da gestão de inovação na UFC, destaca a importância da Universidade ter priorizado essa temática e salienta o empenho e o profissionalismo da equipe da CIT/UFC Inova, que auxilia os pesquisadores durante todo o longo e árduo processo de solicitação e tramitação da patente. “A UFC Inova tem desempenhado com muita eficiência sua missão, o que deve ser motivo de orgulho para toda a comunidade”, resume.
Por Marcos Robério Santo
Fontes: Prof. Daniel Albiero, ex-professor da UFC e atual docente da UNICAMP ‒ e-mail: daniel.albiero@gmail.com; Ana Carolina Matos, coordenadora de Inovação Tecnológica ‒ e-mail: carolmatos@ufc.br