Gel magnético odontológico remove enzimas prejudiciais e auxilia na preservação dos dentes
Invento que garantiu a 31ª carta patente da UFC pode ser aplicado em pacientes com deficiência de minerais nos dentes.
Por meio de nova tecnologia patenteada e desenvolvida pela Universidade Federal do Ceará, os tratamentos odontológicos ganharam um aliado: um gel formado por nanopartículas que, ao ser utilizado em conjunto com imãs, promove o aumento da resistência dos dentes à degradação e a melhora da saúde bucal por pacientes.
A base de ação do produto está na composição das nanopartículas que formam o gel, feitas com óxidos de ferro e inibidores que interagem com as substâncias chamadas metaloproteinases, enzimas que têm metais como base. Elas estão ligadas à deterioração das estruturas dentárias, tendo inclusive participação na formação de cáries.
Presentes de forma inativa mesmo em arcadas saudáveis, já que fazem parte do tecido que compõe os dentes, as metaloproteinases se tornam agentes capazes de aumentar a degradação dentária quando a saúde bucal está prejudicada.
Somente inibir as substâncias, porém, ainda não caracteriza a ação completa da tecnologia. Por isso, após a interação com o gel, elas são extraídas a partir do uso de dispositivo com imã, que atrai as nanopartículas magnéticas, levando as metaloproteinases consigo.
“Dessa forma, é possível remover definitivamente as metaloproteinases responsáveis pela degradação do dente através de um campo magnético externo, resultando em controle da progressão da cárie e deterioração do dente”, resume o Prof. Pierre Basílio Almeida Fechine, do Departamento de Química Analítica e Físico-Química da UFC e um dos pesquisadores responsáveis pela invenção agora patenteada.
A aplicação do gel pode ser particularmente necessária nos casos em que o colágeno dos dentes esteja exposto após a ocorrência do processo de desmineralização, processo natural de perda de minerais, como o cálcio, da estrutura dentária. Esses minerais são necessários para a manutenção do esmalte do dente, que o protege de deteriorações e infecções.
Apesar de fazer parte dos processos químicos naturais pelos quais passam os dentes, a desmineralização pode ser agravada por maus hábitos de saúde bucal, como a falta de escovação, o uso de escovas duras ou a escovação muito forte, que danificam o esmalte dental. Assim, a remineralização (a recuperação dos minerais, processo igualmente natural) fica prejudicada.
Segundo explicam o Prof. Pierre e o Prof. Victor Pinheiro Feitosa, que também assina como um dos criadores da invenção, nos casos em que há esse desequilíbrio e alta desmineralização, a aplicação do gel por dez segundos, seguida da utilização do imã, é o suficiente para livrar a estrutura dentária das partículas magnéticas e das enzimas.
PATENTE
Desenvolvido por pesquisadores dos programas de Pós-Graduação em Química e em Odontologia da Universidade Federal do Ceará, o gel odontológico foi base para obtenção da 31ª carta patente da história da Instituição. Feito em 2017, o pedido resultou em patente expedida pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) em outubro deste ano.
Com “grande potencial mercadológico”, como defende o Prof. Pierre, o invento surge como uma novidade promissora para a área da Odontologia. “Nosso gel pode ser aplicado em pacientes de rotina de uma clínica odontológica. O dentista utilizará o gel em procedimentos de restauração”, diz o pesquisador.
Outra vantagem da invenção é sua aplicabilidade econômica, o que facilita a inserção mercadológica. “As matérias-primas utilizadas na composição do gel são relativamente de baixo custo, quando comparadas a outros materiais de uso diário de uma clínica odontológica. Logo, podem fazer parte do arsenal do dentista para garantir um maior conforto ao paciente”, defende o Prof. Pierre.
Assinam como inventores na carta patente: Victor Pinheiro Feitosa, Walter Zenobi, Madiana Magalhães Moreira, Pierre Basílio Almeida Fechine, Davino Machado Andrade Neto.
Fonte: Prof. Pierre Basílio Almeida Fechine, do Departamento de Química Analítica e Físico-Química da UFC – e-mail: fechine@ufc.br