Parceria com UFMA cria primeiro néctar de frutas probiótico; invento garante 13ª carta patente à UFC
Um novo alimento funcional que serve como alternativa a bebidas lácteas para pessoas com intolerância a lactose ou veganas foi criado através de uma parceria de pesquisadores da Universidade Federal do Ceará e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Trata-se do primeiro néctar de frutas probiótico, invento que traz inúmeros benefícios à saúde e que acaba de garantir para a UFC a sua 13ª carta patente.
Os probióticos são bactérias benéficas à saúde humana. Os alimentos que trazem esses microrganismos promovem bem-estar e saúde, em virtude dos nutrientes ofertados e da redução do risco de doenças. Os probióticos estão associados ao controle dos níveis de colesterol, à estimulação do sistema imune, ao alívio da constipação e ao aumento da absorção de minerais, sem contar que ainda apresentam efeitos anticarcinogênicos e anti-hipertensivos.
A carta patente expedida descreve o néctar probiótico – que tem potencial para ser usado pela indústria de alimentos no ramo de bebidas – e o seu processo de produção. O néctar pode ser obtido de frutas como cupuaçu, açaí, cacau, ciriguela, caju, goiaba, acerola, manga, murici, abacaxi, uva, tangerina, maracujá, cajá e carambola.
Os estudos foram feitos inicialmente com cupuaçu, escolhido por ser uma fruta de alto valor nutricional. “Além disso, essa fruta apresenta excelentes características sensoriais, sendo bastante apreciada por seu sabor e aroma. Adicionalmente, essa fruta é produzida na região [Nordeste] e bastante consumida, mas não é matéria-prima convencional para a produção de sucos e néctares de frutas comerciais”, explica a Profª Ana Lúcia Fernandes Pereira, uma das autoras do invento.
ALTERNATIVA AOS LÁCTEOS – A motivação para a pesquisa que culminou no invento foi a busca de uma solução probiótica para pessoas com restrição ao leite na dieta. Isso porque esses alimentos tradicionalmente têm sido adicionados a produtos de base láctea, como leites, iogurtes, requeijão, queijos e sorvetes, pelo fato de tais itens contribuírem para a sobrevivência dos microrganismos probióticos ao suco gástrico, que é altamente ácido.
O desafio no desenvolvimento das bebidas à base de frutas é fazer com que o probiótico mantenha sua viabilidade mesmo diante do baixo pH do produto (ou seja, de sua alta acidez), o que pode inibir o crescimento desse microrganismo. Esse obstáculo começou a ser enfrentado entre 2010 e 2013, quando a Profª Ana Lúcia realizou sua pesquisa de doutorado no Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos da UFC, sob orientação da Profª Sueli Rodrigues. Na ocasião, elas trabalharam com a produção de suco probiótico de caju.
“Após a finalização do doutorado, já como docente da Universidade Federal do Maranhão, surgiu a oportunidade de desenvolvimento dessas bebidas a partir de frutas regionais e de uso não convencional na produção de sucos e néctares de frutas comerciais”, informa a hoje professora. Ela e sua orientadora da UFC, juntamente com as professoras da UFMA Tatiana Lemos e Virgínia Abreu, enviaram um projeto ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) para auxílio financeiro da pesquisa, o qual foi aprovado. O estudo iniciou em 2014, sendo executado pelo discente Wallaff Feitosa em seu trabalho de conclusão de curso na UFMA.
A pesquisa gerou, com sucesso, o produto final esperado e, em 2015, foi solicitada a patente. Há cerca de um mês, o Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI) concedeu a carta patente, registrando os cinco pesquisadores como autores do néctar probiótico e de seu processo de produção.
VANTAGENS – A Profª Sueli Rodrigues, do Departamento de Engenharia de Alimentos da UFC, destaca que a aplicação de probióticos aos sucos traz como vantagem o fato de estes já serem naturalmente alimentos tidos como saudáveis e isentos de colesterol. “Assim, a utilização de sucos e néctares de frutas, que contêm nutrientes como minerais, vitaminas, fibras e antioxidantes, proporciona maiores efeitos benéficos à saúde do consumidor”, analisa a professora.
Como o pedido da patente foi feito ainda em 2015, a professora informa que, ao longo desse período, já houve avanços nos estudos, a exemplo da avaliação da vida útil do néctar sob refrigeração, para nortear o prazo de validade do produto. Outro progresso foi o uso de adoçantes na elaboração dessas bebidas, com o objetivo de atender também o público com restrição de açúcar na dieta.
COMERCIALIZAÇÃO – O néctar ainda não começou a ser utilizado, pois os inventores estavam à espera da expedição da carta patente pelo INPI. “Ela representa o direito à exploração da invenção por seu titular, conferindo-lhe exclusividade de uso, comercialização e produção”, explica a Profª Sueli Rodrigues.
A Profª Ana Lúcia adianta que o próximo passo será a prospecção de empresas do setor de bebidas, dando visibilidade à tecnologia patenteada e ao licenciamento da tecnologia. “Há boas perspectivas de comercialização do néctar, tendo em vista que o consumo dos probióticos se configura como uma das tendências e oportunidades pós-covid-19 identificadas pelo setor de alimentos”, avalia.
Fontes: Profª Sueli Rodrigues, do Departamento de Engenharia de Alimentos da UFC – e-mail: sueli@ufc.br; Profª Ana Lúcia Fernandes Pereira – e-mail: ana.fernandes@ufma.br